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segunda-feira, 23 de maio de 2011

Fringe e a Psicologia Analítica

Além de possuir um ótimo roteiro com atores perfeitos para cada papel, Fringe também consegue ser referência crítica em diversas áreas, seja a Física Quântica, a Medicina ou até mesmo a Psicologia. Quando Peter Bishop diz que “a realidade é só uma questão de percepção”, ele não está somente reafirmando a ideia base da série, mas também discutindo um dos pontos do psiquiatra suíço Carl Jung, criador da psicologia analítica.
Uma das características do sistema junguiano, é que ele se baseia em vários autores. O filósofo Immanuel Kant aplicava em sua teoria o conceito de “conhecimento a priori”, algo que o indivíduo herda de seus antepassados. Um exemplo está na infância: muitos pais têm a impressão que seus filhos já nasceram, por exemplo, sabendo mexer no computador. Na primeira temporada da série, Olivia afirma que sempre foi boa com números. Esse é o conhecimento prévio do qual se trata; como se um pen drive contendo informações fosse passado de geração para geração, e que fosse possível acessar estes dados. Jung então vem a utilizar esse conceito, que irá fazer parte da concepção da realidade subjetiva, algo largamente propagado por Fringe. Outro conceito importante para entender essa relatividade é o de arquétipo. Ele corresponde a uma visão pré-concebida de símbolos, como o da Grande Mãe (aquela pessoa carinhosa, que cuida e estimula). O arquétipo vem daquela mesma informação “dos antepassados”. É uma forma inicial, uma ideia a qual cada um irá preencher de acordo com as pessoas que venha a conhecer e com a sua experiência de vida. Sempre há alguém que podemos representar como o Velho sábio, o Herói, a Virgem. Em Fringe, notamos os arquétipos recorrentes de personagens, como Walter, no papel do cientista louco.
Esses dois conceitos são parte da teoria de apologética do subjetivismo de Jung e o ponto de partida para vários episódios deste drama. Como o conhecimento a priori e o arquétipo se manifestam de forma diferente em cada pessoa, isso faz com que cada evento signifique algo distinto para cada um e que cada manifestação do Padrão em Fringe tome uma proporção única dependendo do referencial: Olivia, Peter, Broyles, Nina ou Walter. Assim sendo, cada indivíduo enxergará aquela realidade baseado em que sua psique permita. No episódio 3×17 (Stowaway), Willivia apresenta duas explicações para o caso da aparentemente imortal Dana Grey: a primeira é racional, com base na física e biologia e a segunda com fundamento na fé. Essas maneiras diferentes de ver a vida faz com que não exista uma verdade única. O que é possível para mim, pode não ser possível para você. E é nessa tecla que Fringe bate toda semana. Abra sua mente, aceite que possa existir coisas das quais você ainda não se deu conta. Dessa forma, pessoas podem desenvolver habilidades extraordinárias e universos paralelos tornam-se não apenas factíveis, como até mesmo aceitáveis.